sexta-feira, setembro 01, 2006

Chapter 2 - Waking Up... A importância das horas when it turns dust.

Brilhante. O dia está brilhante. 9h? 10h? Ok. 12h. Passou tão rápido e a noite foi tão longa. Lençóis brancos cal, com perfume de sexo e maçãs.
Hummm...Um chuveiro ligado. Já tomas duche com uma rapidez. Fria. Água fria como vento de Inverno. Tenho preguiça.


- Bom dia.


O teu rouco matinal...Faz-me sorrir. (Bom dia) Não me lembro bem como viemos aqui parar. Aliás lembro-me mas será bom falar no assunto? Um beijo no fundo das minhas costas. Que carinhosa estás. Mais um, um pouco acima. Tens o cabelo molhado e arrasta-lo pelo meu corpo. Cordas. Bate-me. Fetiche. Melosa. Guarda um pouco para depois, mais tarde. Outro e mais outro. Um telefone a tocar. 


- Bom dia.


O teu. Foges apressada para o atender, e falas baixo, e escondes-te noutra divisão, mais escura, tão longe. Sentei-me porque não consigo ouvir-te mais perto. Demoras enquanto perco o entusiasmo de te ter novamente. Levanto-me. Preciso de um duche também, mas o cheiro...Este cheiro do teu corpo que não me quer largar. 


- Bom dia.


Ainda não voltaste. Estás a falar com...? Vou até à cozinha. Tão desarrumada e desorganizada. Já está assim desde há 3 dias. Mas há 3 dias que comemos maçãs. Vens aí. Já vestida e tão cheia de pressa. (tenho d'ir, se quiseres fica por aí.)(onde vais?)(venho já). Bates a porta como uma corrente de ar. Ok. Fiquei por cá.


- Bom dia.


12h30. Vou tomar um duche. Deixaste tudo molhado e toalhas no chão. Não quero água fria. Vermelho, vermelho, até ficar bem mais quente! Agora sim. Mergulho no chuveiro e aguento uns bons 10 minutos. E penso..Penso tanto que chega a doer. Uma relação em fase terminal é pior do que uma doença sem cura. Sabemos que irá terminar, tarde ou cedo, mas a angústia do renascimento dos nossos sentimentos aterra-nos até ao nível mais baixo. Poeira. Com uma doença morremos. Com um desgosto temos que renascer. Pó, grosso e denso. E onde estará a força para renascer? Champô escorrega-me para dentro dos olhos! Que ardor! Um fogo apaga-se com água, mas o meu amor por ti... Um homem não é de ferro, mais parece de algodão. 13h45.


- Bom dia.


Tento arrumar o que posso, quase nada. A tua vizinha Madalena veio bater à porta da d.Natércia. Noc noc.(boa tarde vizinha, tem gengibre?)(olá d. Madalena, vou ver se tenho, mas se o tiver, é em pó) (serve vizinha serve em pó, é para uns bolinhos que vou fazer) (aqui tem) (obrigada, depois passo cá para lhe deixar provar alguns) (muito bem vizinha). 


- Bom dia.


Incrível como nas casas velhas de Lisboa se consegue ouvir tudo. É provável que esta noite tenham ouvido a nossa dança. E tu danças tão bem. A d. Natércia e a d. Madalena já devem estar habituadas. Nem quero pensar nas coreografias que já ensaiaste naquela cama. Solos e grandes corpos de bailado. Não me perguntes porquê.


- Bom dia.


Uma chave. És tu. Borboletas na barriga. (olá) 14h30 (demoraste!)Nem pareces a mulher de ontem. Estás a chorar. Abraço-te e sinto-me tão protector. Não tinha ainda experimentado esta sensação. Bom... quando conseguimos proteger alguém. Alguma coisa te atormenta. Confia em mim. (por favor, não te vás embora) 15h. 
O tempo passa devagar e tu adormeceste no meu colo. Tens uma pele tão macia que apetece beijar. Decoro os contornos do teu corpo, do teu rosto. As rugas ténues que se tornarão poços sem fim daqui a 50 anos.

- Bom dia.

Abismos de ternura se ficasses a meu lado. O teu cabelo repousa no braço do sofá. Confortável. Sinto-me confortável. Ficaria aqui para sempre, ver-te crescer, a meu lado. O tempo passa despercebido por nós, como quem não quer incomodar. 16h. Há cheiro a bolinhos de gengibre pelo prédio que começa agora a infiltrar-se no teu apartamento. 


- Bom dia.


Entra pela porta de entrada, pela chaminé da cozinha e pela janela da salinha nas traseiras que dá para a janela da cozinha minúscula da d.Madalena. Acordas. Prendes um sorriso às 16h10, não mostrando o branco puro dos teus dentes. És tão bonita. (obrigada por ficares comigo)

- Bom dia.

19h. Já comemos qualquer coisa. (podes ficar por cá hoje?) (sim, claro que sim!). O sol brilhante que me acordou hoje, há já algum tempo que mostra sinais de fraqueza. Foi bom acordar contigo e saber que a cama com perfume de sexo e maçãs estará cá esta noite. Ainda não me contaste a razão das tuas lágrimas hoje. Um livro caído. Três velas acesas na sala. E se saíssemos para dar uma volta? (vamos dar uma volta?) (se tu quiseres). Deixa lá. Fica para amanhã porque hoje o dia foi tão bom.